sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Modelos Administrativos - e a função de uma consultoria




Após algum tempo tentando escrever sobre um dos modelos de análise organizacional que utilizo em meu dia a dia, percebi algo simples e fundamental. Apesar do modelo em questão ser perfeito para algumas situações, ele pode ser pouco adequado para outras. E o mesmo vale para todos os modelos do mercado. Os modelos são como ferramentas - um martelo é ideal para prender um prego na parede, mas  pouco útil para furar algo. Assim, devemos ter em mente que, mais importante do que se fixar obsessivamente em um determinado modelo, é fundamental tentar compreender os campos de atuação ideais de cada um.

Um modelo como o trevo, de Antonio Luiz de Paula e Silva, por exemplo, é particularmente interessante quando utilizado para examinar os impactos cruzados de diversas facetas de uma organização. Em particular, acho essa ferramenta bastante interessante por chamar a atenção para a importância da relação entre a missão da organização e a demanda social que produziu, ou deveria ter produzido. Em outras palavras, a faceta mais interessante da ferramenta é a capacidade de fazer perceber a importância do "quadrante" Sociedade/ Instituição. - e a insistência na necessidade de se calcular os custos para verificar a elegibilidade de um projeto. Se buscarmos uma análise mais detalhada de um planejamento financeiro, entretanto, esse modelo talvez não se mostre o mais ideal.

 Existem ferramentas que chamam atenção para outros fatores. É o caso da BCG, que chama mais a atenção para a necessidade de um plano estratégico e de marketing
 Por isso, acredito na importância e no valor de consultorias. Não apenas no terceiro setor, mas em todos. A importância não deriva de um conhecimento mais profundo do setor em ocorre a consultoria. Não posso falar, por exemplo, como uma ONG ligada à educação deve elaborar seus projetos. Por mais que eu possa ter uma melhor noção de mercado e da facilidade de “venda” de cada projeto, seria um erro atropelar as razões pedagógicas e técnicas por detrás da construção de um projeto. (elementos que estão além da minha formação).

 Nesse sentido, uma consultoria deve empreender uma ação que leve o insight para dentro das organizações. Com isso quero dizer que o trabalho de uma consultoria está em seu auge quando utilizamos alguma técnica que permita que a instituição perceba os seus buracos, as suas necessidades e possa, a partir dessa nova visão, compreender o sentido das mudanças necessárias. De fato, não é o consultor que fará a recomendação (ele não possui um livro mágico), mas a própria organização que poderá descobrir os sentidos das mudanças necessárias, por meio da facilitação de um agente externo.

No caso inicial do modelo do trevo, é fundamental levar às instituições a noção de que o direcionamento da organização é tanto mais importante quanto maior for a demanda social para o seu trabalho. Assim, em um país como o Sudão, uma ONG que ajude em conflitos sociais é mais importante do que uma que lide com a questão da fome (o Sudão, ao contrário do que se possa pensar, é um país basicamente rural que não tem dificuldades na produção de insumos alimentícios). É evidente que as organizações já fizeram essa reflexão em algum momento - mesmo que de forma inconsciente. O modelo do trevo ajuda a trazer essa reflexão para o plano consciente. Mais ainda, permite mostrar ao mundo essa relação, contando a importância dos projetos da organização para qualquer pessoa que esteja disposta a ouvir. Isso, claro, inclui os potenciais patrocinadores e contribuidores à causa.


domingo, 27 de novembro de 2011

Sobreviver e viver


Milhões de pessoas acordaram hoje simplesmente porque não morreram ontem.

Essa é umas das frases mais fortes que ouvi nos últimos tempos. Ela traz a tona não apenas os nossos medos, mas, possivelmente, algo de como vivemos nossas vidas. Tal como autômatos, muitos de nós entramos em nossos carros, chegamos ao trabalho e reclamamos do clima como se esse fosse o sentido dos nossos dias.

Andamos com a sensação de que a única diferença entre um dia e outro é o número marcado no calendário. Os nossos objetivos se resumem às férias de fim de ano. Vivemos como se fosse absolutamente lógico sofrer 330 dias para gozar de 30.

É por isso que, quando ouvi essa frase, fiquei tão nervoso. Milhões de pessoas acordaram hoje simplesmente porque não morreram ontem.  
No fundo, a pergunta é: e eu? Porque eu acordei hoje? Acordei com o automatismo de quem dá um nó na gravata, ou para realizar algo? Acordei para viver ou apenas para sobreviver?

O que dá sentido ao dia é a possibilidade de acordar com um plano em mente. Quer dizer que para se dar sentido ao acordar, não basta sabermos o que queremos atingir daqui a dez anos. É preciso saber exatamente o que faremos hoje (e amanhã e semana que vem) para atingir o nosso objetivo maior. Isto é planejamento

Mais do que perceber um motivo para acordar, vale a pena procurar um motivo para acordar feliz. E essa é a particularidade do terceiro setor – pelo menos se levarmos em conta o conceito de felicidade dos gregos. Os gregos acreditavam que felicidade é a possibilidade de realizar alguma coisa para o bem comum. A felicidade não deve ser medida olhando-se para dentro de uma pessoa, mas para fora, para o que ela fez.

Felicidade significa ter um plano do que devemos fazer para realizar nossos objetivos. Para realização pessoal fazer mudanças no mundo que sonhamos antes de acordar. A escolha de trabalhar com Ongs implica em acreditar, superar desafios e ter a certeza no fim do dia de que valeu a pena ter acordado hoje.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Mesmo sendo para elite, festival SWU teve incentivo de R$ 6,2 mi do MinC

Excelente texto de Alana Rizzo, sobre os desvios de propósito no festival SWU acontecido na semana passada, no interior de São Paulo.

Mesmo com parecer pela reprovação, o Ministério da Cultura autorizou a captação, por meio de renúncia fiscal, de R$ 6,2 milhões para o festival de música SWU. A proposta "requentada" do ano anterior pela produtora do evento foi rejeitada porque não apresentava critérios claros de democratização do acesso. Os ingressos custam R$ 290 por dia ou R$ 735 o passaporte para três dias. A decisão do secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, Henilton Menezes Parente, contraria ainda recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU) de descentralizar recursos da Lei Rouanet. O festival começa hoje em Paulínia, interior de São Paulo, e vai até segunda-feira com a participação de artistas nacionais e internacionais.

Para o parecerista da Comissão de Incentivo à Cultura (Cnic), o projeto não atende à legislação porque o preço dos ingressos é inacessível à população em geral. A produtora informou que iria doar 10% dos ingressos para estudantes e órgãos destinados a prover cultura. "Serão feitas promoções com veículos de comunicação para proporcionar ingressos a preços inferiores aos apresentados, que, por sua vez, são acessíveis à população", diz o projeto.

A justificativa para o preço do ingresso é de que o consumidor terá acesso a shows de cerca de cinco grandes artistas por dia. "Assim, ressaltamos que o valor dos ingressos é sim democrático, na medida em que possibilita o acesso a inúmeros shows. Os valores apresentados são, por vezes, inferiores a eventos com um só artista", afirma a produtora.

Outras irregularidades também foram apontadas pela Cnic: os períodos de realização da pré-produção e do evento estavam inadequados, e a planilha orçamentária não discriminava gastos e incluía despesas desnecessárias, como locação de sete helicópteros, despachante por R$ 102,9 mil e aluguel de caminhões de R$ 52,5 mil. As informações sobre a equipe técnica e os respectivos custos também não eram claras. O gasto com produtor musical é de R$ 40 mil e assistentes de produção receberão R$ 84 mil e R$ 30 mil.

Prorrogação
O projeto analisado pelo ministério é relativo ao festival de 2010, que aconteceu em Itu (SP), entre 9 e 11 de outubro, e tinha outra seleção de artistas. Em 4 de novembro do ano passado, a D+ Brasil Entretenimento, Conteúdo e Comunicação Total Ltda. encaminhou ofício pedindo a prorrogação do projeto aprovado em 2010 para o festival deste ano. Segundo a produtora, não houve tempo hábil de captação e de realização do evento, em Itu, com os recursos da renúncia. O prazo expira em 31 de dezembro.

A reportagem entrou em contato com a produtora D+ na terça-feira e encaminhou todos os questionamentos por e-mail. Até o fechamento desta edição, ninguém retornou. Segundo o ministério, o projeto recebeu parecer favorável depois de ser revisto pela Funarte e pela Cnic. A reportagem solicitou a documentação, que foi negada pela pasta. Nenhum parecer favorável consta no sistema de aprovação de projetos culturais. Com relação à democratização e ao preço dos ingressos, a informação é de que "a Lei Rouanet não estabelece valores-limite para cobrança de ingressos em projetos patrocinados com incentivo fiscal". Sobre ingressos distribuídos para funcionários, a informação é de que o ministério ainda não recebeu nenhuma entrada.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Carta em agradecimento a Michel Freller

Abaixo, o agradecimento após uma palestra de Michel Freller.



Ilm.
Sr. Michel Freller,

Prezado


É com imenso prazer que renovamos nossos agradecimentos pela notável presença no XII Congresso Brasileiro do Terceiro Setor, a qual certamente abrilhantou o debate.

     Com intuito de rememorar o momento se sua contribuição conosco, vimos anexar á presente, uma lembrança fotográfica de sua participação.

Por fim, ressaltamos mais uma vez nossos agradecimentos e apresentamos nossos protestos de elevada estima e consideração.


Atenciosamente,

ECONÔMICA DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL

               Marcos Biasioli                                            Cláudia
Coordenador Geral do Congresso           Coordenadora Operacional

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Erros mais comuns ao se solicitar dinheiro


Muitas vezes, não queremos nos aprofundar em tema nenhum. Queremos um guia rápido e fácil do que fazer e do que deixar de fazer. Pensando nisso, e na ansiedade que a hora da solicitação de recursos pode gerar, resolvi fazer uma lista simples com o que NÃO devemos fazer nessa hora.

*      Deixar de quantificar, pedir uma quantia qualquer de apoio – Quanto der esta bom (não passar os valores possíveis de doação)
*      Falar demais e não escutar
*      Falar da organização e de seus métodos em lugar de falar dos motivos da campanha e dos resultados esperados
*      Não apresentar alternativas (ao plano inicial) – jogo de cintura
*      Não saber o suficiente sobre o investidor antes de reunir-se com ele
*      Continuar falando sobre a organização depois de solicitar os recursos
*      Enviar pessoas destreinadas e desentrosadas para solicitar os recursos

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A Bondade


Um dos maiores problemas do terceiro setor (ts) é a tendência das pessoas envolvidas no mesmo serem do bem. É óbvio que esta também é a sua maior qualidade. Afinal, é por haver pessoas com ideais, que buscam melhorar  o mundo, que existe o terceiro setor. Mas hoje, vamos falar porque, muitas vezes, essa disposição positiva pode atrapalhar o desempenho de uma organização..

Para tanto, precisamos estabelecer as diferenças entre uma empresa e uma organização do ts. A principal diferença é a finalidade de cada uma: tradicionalmente a empresa visa o lucro, e a organização a sua missão (prover ambiente seguro para crianças em situação de risco, por exemplo). O difícil não é entender as diferenças nos fins, mas nos meios de alcançá-los.

Em primeiro lugar, ambos os empreendimentos contam com profissionais assalariados que tocam o dia-a-dia do negocio – com a possibilidade de trabalho voluntário  no caso do ts. Esses trabalhadores devem operar as suas funções e garantir a aproximação da  organização com a sua finalidade – seja lucro, seja um objetivo social.

Para as empresas, é razoavelmente fácil descobrir quando se está aproximando ou se afastando da sua finalidade – em todos os casos, o sucesso e o fracasso sempre se associam à proximidade da empresa do lucro. No caso das organizações do ts, a coisa é mais difícil: cada uma deve desenvolver um parâmetro de avaliação próprio. Em alguns casos, pode ser fácil: se, por exemplo, se entender que o importante é dar ao maior número de crianças  uma cama, basta comprar uma grande casa, com o maior número de camas possíveis. Se, por outro lado, for preciso definir o que é um lugar seguro para uma criança – talvez seja um lugar em que ela se sinta amada – a avaliação do sucesso da organização começa a ficar mais complexa. Muitas camas é um resultado positivo? Provavelmente não será  suficiente.

Por isso, muitas organizações ficam perdidas em suas relações com os seus  colaboradores e patrocinadores. Não sendo fácil medir o sucesso da empreitada, como podemos medir a qualidade do trabalho de nossos funcionários? O cálculo passa a ser ainda mais subjetivo e avaliado em grande medida por empatia.
Por isso se torna um problema os empreendedores do ts serem, tantas vezes, pessoas do bem. Por que, em algum momento, eles terão que avaliar a sua equipe, e os padrões de avaliação não são dados a priori. Assim, muitas vezes, a avaliação dos funcionários é feita com bondade excessiva e até  certa conivência.

Não recomendo um ambiente despótico – mas a lembrança constante de que, seja onde for, o funcionário ou voluntário deve ser escolhido  para desempenhar uma função. E é sobre o seu trabalho que ele deve ser avaliado, e não pelo seu potencial de mudança. Essa é a única maneira de se atingir o objetivo maior – é pelo trabalho sério, comprometido e avaliado que podemos fazer do nosso trabalho no ts, um veículo de mudança de mundo

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Planejamento Estratégico


      Pode dizer-me que caminho devo tomar?
       Isto depende do lugar para onde você quer ir. (Respondeu com muito propósito o gato)
       Não tenho destino certo.
       Neste caso qualquer caminho serve.
(“Alice no País da Maravilhas” - Lewis Carrol)

Toda vez que falo de planejamento estratégico gosto de começar com esse pequeno diálogo, acima. Acho, entretanto, que a resposta do gato – de seu jeito irônico, às vezes deixa as pessoas um pouco confusas. Isto porque discordamos do gato. O otimismo latente na fala dele (de que se não se há destino pré-estabelecido qualquer lugar serve) deve ser substituído por uma boa dose de realismo – na verdade, quando não sabemos para onde estamos indo, nenhum lugar serve. Na vida real, andar a esmo nunca nos leva a nenhum lugar interessante – especialmente quando falamos de empresas ou organizações. Muitas vezes, inclusive, a falta de planejamento chega até mesmo a nos paralisar.

Quem nunca viveu aquela situação em que o objetivo está tão distante e as coisas parecem tão difíceis que achamos que não vale à pena nem mesmo começar? Para evitar essa sensação paralisante é fundamental estruturar um planejamento adequado. O primeiro passo é escrever os nossos objetivos e as nossas metas.
Para podermos fazer isso, entretanto, é importante que tenhamos claras as diferenças entre esses dois conceitos. Na verdade, a diferença é bem simples – e boa parte da confusão que temos por aqui se deve a más traduções dos termos ingleses (goals/objetivos e objectives/metas).

Quando falamos em objetivos, temos em vista algo em longo prazo, mais Do instituto “Se Toque” (com quem faço um trabalho em parceria), por exemplo, poderíamos dizer que os objetivos são: 1) “reduzir a mortalidade por câncer de mama no Brasil”; e 2) “aumentar a conscientização das mulheres para o problema”.

As metas, pelo outro lado, são mais específicas e contêm, imbuídas em si, uma previsão de ação. Assim, poderíamos dizer que as metas de 2011 do “Se Toque” são – aumentar em 10% o diagnóstico precoce de câncer de mama na cidade de São Paulo; distribuir 5.000 informativos de auto-diagnóstico para populações carentes; arrecadar R$50.000,00 para levar ambulatórios médicos para as zonas mais carentes da cidade; etc.

Neste exemplo fictício, podemos observar que o objetivo sempre será o grande norteador das metas. Estas, por sua vez, vão procurar estabelecer os pontos a serem alcançados a curto e médio prazo para alcançar esse objetivo maior. 

Por Michel Freller

Michel Freller falando sobre eventos

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Venda de Produtos

colar da Vida, Vendido pelo se toque (aqui)


A venda de produtos feita pelo Terceiro Setor produz diversas controvérsias. Em primeiro lugar nos faz pensar sobre o próprio estatuto das organizações do terceiro setor.  Afinal, as entidades desse setor são definidas pela sua ausência de fins lucrativos ou econômicos.

Afinal de contas, o Terceiro Setor é o resultado das operações de interesse público realizados pela iniciativa privada. A relação de venda padrão, associada ao Segundo Setor, representa outra coisa: interesses privados utilizando de meios privados. Neste setor, o padrão é a venda vinculada a lucro.

Quando falamos do Terceiro Setor, entretanto, devemos ter em mente outro conceito – é preciso substituir a palavra lucro por superávit. As idéias são semelhantes, mas não são idênticas, e é importante ter claro as diferenças.

Em especial, é importante entender que o lucro visa o acumulo de capital de uma pessoa ou de um grupo de pessoas (o dono, os shareholders). O superávit é simplesmente o resultado de uma operação de subtração – isto é, o resultado de se subtrair as despesas dos gastos (quando o saldo é positivo). O lucro é uma das possibilidades de destino (ou classificação) desse superávit quando no setor privado.
É justamente este destino que está interditado às organizações do Terceiro Setor. Afinal, devemos lembrar, elas se definem por serem iniciativas privadas de finalidades públicas. Assim, se alguém de uma organização lucra com uma atividade – uma finalidade privada do comércio – não se trata apenas de um deslize, mas de um crime ligado a corrupção.

O superávit, ao contrário do lucro, é essencial a qualquer empreitada de venda – mesmo àquelas do terceiro setor. Isto quer dizer que, para uma atividade de venda de produtos fazer sentido enquanto estratégia de mobilização de recursos, é essencial que haja superávit (ou superávit previsto). Em outras palavras, em qualquer estratégia de arrecadação é preciso que os recursos que chegam (income) sejam maiores do que os que saem (outcome), o balanço deve ser positivo.

A particularidade da venda de produtos no terceiro setor é de que esse superávit, em sua totalidade, deve ser utilizado para ajudar no cumprimento da missão da organização. Se, por exemplo, a missão da minha entidade é levar alegria para crianças internadas em UTI através da arte do palhaço, o superávit da venda de meus produtos (digamos, nariz de palhaço) deve servir para cobrir todos os custos dessa operação. Pode servir para comprar a maquiagem, pagar os salários, ou qualquer outra atividade essencial para se alcançar essa missão.

O que é proibido é utilizar o capital conseguido com a venda para enriquecimento. Se, por exemplo, o dinheiro arrecadado foi maior do que todos os custos da minha operação, eu NÃO posso distribuir essa sobra entre o conselho, ou os diretores. Isto seria um lucro indevido, e esbarraria em diversas questões legais.

Existem muitas outras questões mais complicadas rodeando a venda de produtos por organizações do Terceiro Setor. Entre elas, destaca-se a questão da concorrência – será que uma entidade do Terceiro Setor, por possuir uma série de incentivos fiscais, não receberia benefícios que tornariam a concorrência com empresas do Segundo Setor desleal? Mas isso é tema para outro artigo...

Se você tem interesse em ver essa questão debatida, ou se você tem interesse em saber mais sobre esse tema (ou qualquer outro tema) não esqueça de nos avisar na sessão de comentários.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Criatividade

"Muita criatividade com pouco dinheiro
 é imensamente mais rentável e divertido 
do que muito dinheiro sem criatividade." 
 Arnold Bennett


É estranho que tenhamos que importar uma frase tão simples de um escritor. Ainda mais de um escritor inglês pouco conhecido no mercado tupiniquim, e que é famoso por ter admitido francamente que toda a sua produção artística também tinha uma importante finalidade monetária. Escrever, para Bennett, era mais do que arte, era sua maneira de ganhar dinheiro.

Mas, talvez, pensando melhor, um conselho desse tipo só poderia vir de uma pessoa assim. Afinal, apenas alguém que entende que dinheiro é importante está conectado o suficiente com a realidade para dar um conselho valioso. E o conselho, no caso, não é que dinheiro não é importante. Mas que podemos contornar a importância do dinheiro com criatividade.
Em tempos de crise econômica como os que se aproximam, esse conselho se torna ainda mais importante. Afinal, onde existe recessão, deve existir queda do investimento privado em causas do terceiro setor.

Não se deve ignorar um cenário como esse, mas nervosismos excessivos também não resolvem nada. O que precisamos ter em mente é que são nos períodos de crise que a capacidade criativa se torna ainda mais importante e mais ativa.

E criatividade, em arrecadação de recursos, não é apenas pensar em novas estratégias para se conseguir mais dinheiro – é, sobretudo, aprender a fazer mais com o que temos. Mais do que isso, é aprender que recursos não se limitam aos incentivos financeiros – que recurso é qualquer coisa que ajude no desenvolvimento do projeto/causa. E, para descobrir, em cada projeto, o que é um recurso importante, é preciso de muita criatividade: essa criatividade que permite produzir mais com papelão do que com papel-moeda. A criatividade que se mostra mais rentável do que dinheiro; a criatividade de Bennett.

Jogo de Tênis




Arrecadar recursos junto a corporações requer uma estratégia complexa – um plano detalhado que busca demonstrar à companhia que ela deve investir em nossa causa. No fim desse plano, entretanto, existe uma aspecto mais delicado, que está mais próximo da arte do que da técnica. Especialmente se considerarmos, como deveríamos, que o diálogo é uma forma artística.

Mas o diálogo dessa negociação não é o mesmo daquele de uma roda de amigos – e nem deveria ser. É um diálogo com diversas especificidades, mas especialmente, é um diálogo voltado a um objetivo. Ou seja, o objetivo dessa conversa é aproximar a empresa da causa apresentada. Idealmente, essa aproximação deve culminar em um apoio concreto – seja divulgação, verba ou similar, é importante que a empresa termine a conversa com algum compromisso à causa.

O que muitas vezes escuto, é que realizar essa última com conversa é uma das maiores dificuldades das ONGs (e, muitas vezes, das consultorias). Por um lado, muitos “arrecadadores” (profissionais ou não) ficam excessivamente tímidos; ao ponto de, muitas vezes, sequer deixar claro qual a contrapartida que esperam da empresa. Para esses casos, eu gosto de lembrar que as empresas e seus representantes não são ingênuos: eles sempre sabem que a reunião tem por finalidade o pedido de formação de parceria da ONG. Se a apresentação foi bem feita, as possibilidades com que essa parceria pode se ajustar já foram introduzidas anteriormente (mesmo que apenas en passant). É preciso apenas, nesse momento final, deixar a proposta evidente. Ou seja, seja direto, pergunte: “Eu havia pensado, para vocês, no Plano (de apoio) A, o que o senhor pensa?”

É uma situação análoga a uma partida de tênis. É preciso, para o jogo começar, que o sacador (a ONG) coloque a bola em jogo. E, para a partida/negociação continuar, é preciso esperar que a empresa retorne a bola. O que nos leva ao segundo erro mais comum por parte dos “arrecadadores”: às vezes por falta de experiência, às vezes por nervosismo, acabamos falando de mais. Damos justificativas excessivas, chegamos, até mesmo, a pedir desculpas e avisar que um pouco menos do que pedimos já estaria de bom tamanho.

A verdade é que essas precipitações podem mostrar insegurança com o valor do projeto apresentado. É preciso, portanto, sangue frio. É preciso, depois do saque, esperar a bola retornar para a nossa quadra – devemos nos posicionar, esperar a bola chegar para darmos nossas raquetadas. Isto é, depois de fazer o pedido de apoio, o melhor a fazer é esperar a resposta do outro lado. Esperar pelo sim ou pelo não, e continuar a partida a partir dos dados que a pessoa do outro lado da mesa nos deu. Entre o não que imaginamos e o não real da empresa, sempre poderemos manobrar melhor o não que recebemos. Afinal, a partir deste não (que poderia ter sido sim, é bom lembrar) poderemos continuar, basta perguntar “por que”? Basta seguir com outras propostas que possam se contrapor ao não inicial.

No final das contas, trata-se de um jogo – e os melhores jogadores são aqueles que se mantêm tranqüilos durante todos os momentos da partida. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Link para quem gostou do tema do último post

Link para os slides da apresentação sobre MRC que fiz na FLAC 2011: http://www.slideshare.net/flac2011/7-etapas-para-um-mrc-de-sucesso-flac-2011

Um panorama bem legal do tema, com dica de procedimentos e ideias.

Alias, aproveito a oportunidade para falar da nova página desse blog. A partir de agora, e aos poucos, vou colocar uma página com links para apresentações e outros arquivos meus. Fiquem de olho.

Markerting Relacionado a Causa


Existem diversas formas de “iniciativas sócio-empresariais”.  Philip Kotler, por exemplo, as divide em seis categorias: Promoção Social, Marketing Relacionado a Causas, Marketing Social, Investimento Social, Voluntariado e Práticas de Responsabilidade Social. Cada uma dessas “iniciativas” tem as suas vantagens e, no futuro, pretendo comentar um pouco de cada uma delas. Hoje, gostaria de falar sobre Marketing Relacionado a Causas (MRC).

O termo surgiu em 1983, com uma campanha da American Express. A idéia era simples: a cada transação feita com o cartão da American Express, um centavo seria doado para a restauração da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque (NY). O resultado dessa estratégia foi que as operações com cartões American Express aumentaram cerca de 25% nos seis meses de duração da campanha. Além disso, foi arrecadado US$1,7 mi para a reconstrução do monumento – e os cidadãos “ganharam” de volta o esplendor do símbolo da cidade.

O sucesso dessa campanha iniciou o que hoje chamamos de MRC. David Hessekiel (no guia sobre o assunto do IDIS) dá uma definição bastante precisa de um MRC: “É uma relação direta entre uma atividade de consumo e uma doação da empresa”. Em outras palavras, o MRC busca uma associação direta entre uma marca (ou produto) e uma ação social que será beneficiada pelo consumo do produto.
Uma campanha de MRC bem sucedida produz três grandes beneficiários: a marca/empresa, a causa/Organização e o cliente/consumidor. O cliente é beneficiado com a satisfação de estar ajudando alguma causa mesmo sem precisar fazer muito. A causa recebe recursos e divulgação. A empresa, além de aumentar a sua receita, pode aumentar o valor da sua marca na percepção do consumidor. Resumindo, se bem feita, um MRC pode ser uma parceria com ganhos para todas as partes envolvidas.
 Produzir um MRC de sucesso, entretanto, não é tão fácil. As dificuldades são inúmeras, mas acredito que todas refletem a complexidade do comportamento do consumidor. O sucesso de um MRC depende diretamente da mobilização do consumidor. Ou seja, é preciso convencer o consumidor a passar a consumir ou consumir mais um determinado produto para que o MRC seja bem sucedida. Sem esse nível de comprometimento e envolvimento nenhuma das partes será efetivamente beneficiada.

Faz-se importante tentar entender como se faz uma ação de MRC de sucesso.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Programação: Chaverim!

Dia 1º de Setembro, o Grupo Chaverim convidará para o espetáculo “Só Improviso”. O espetáculo é com o elenco do programa “É tudo improviso”, da Band. Já recomendaria o show em outra ocasião, agora, com a possibilidade de ir a um bom show de comédia e ajudar um projeto como o Chaverim ao mesmo tempo, a recomendação é dobrada.

Se quiser comprar seus ingressos através do Grupo Chaverim,
Ligue 3818-8876 de 2ª a 6ª feira das 08h00min às 19hs
                Ou 
Central de Atendimento da Hebraica: 3818-8888 


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Palestra na Diálogo Social

Dia 14/07 ministrei uma palestra sobre Mobilização de Recursos para ONGs no espaço “Diálogo Social”. Como de costume, recebi cerca de 20 pessoas, de todas as idades, interessadas em se profissionalizar nessa área tão fundamental para o desenvolvimento dos projetos sociais, culturais e ambientais.

terça-feira, 26 de julho de 2011

David Hume e a arrecadação de recursos para o Terceiro Setor

O filósofo inglês David Hume dizia que, em última instância, todo o conhecimento é derivado de uma lógica circular. Ou seja, em última instância, não podemos fundamentar em uma lógica externa qualquer conhecimento. Isto porque todo o nosso conhecimento é baseado na pressuposição de que as coisas tendem a se comportar como elas se comportaram no passado.


Liderança

É difícil encontrar um consultor, trabalhe ele para o terceiro setor ou para o setor privado, que não fale, em um momento ou em outro, de liderança. Essa palavra, inclusive, virou um paradigma de tudo o que é importante em gestão. É preciso liderar, é preciso saber como liderar.

Não discordo da importância de bons líderes para a formação de qualquer empreitada de sucesso. Mas acho importante frisar o outro lado da moeda: se queremos grandes líderes, precisamos de pessoas que estejam dispostas a serem lideradas. Em outras palavras, é importante que se ensine, também, a reconhecer lideranças; que se ensine a seguir.