sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Modelos Administrativos - e a função de uma consultoria




Após algum tempo tentando escrever sobre um dos modelos de análise organizacional que utilizo em meu dia a dia, percebi algo simples e fundamental. Apesar do modelo em questão ser perfeito para algumas situações, ele pode ser pouco adequado para outras. E o mesmo vale para todos os modelos do mercado. Os modelos são como ferramentas - um martelo é ideal para prender um prego na parede, mas  pouco útil para furar algo. Assim, devemos ter em mente que, mais importante do que se fixar obsessivamente em um determinado modelo, é fundamental tentar compreender os campos de atuação ideais de cada um.

Um modelo como o trevo, de Antonio Luiz de Paula e Silva, por exemplo, é particularmente interessante quando utilizado para examinar os impactos cruzados de diversas facetas de uma organização. Em particular, acho essa ferramenta bastante interessante por chamar a atenção para a importância da relação entre a missão da organização e a demanda social que produziu, ou deveria ter produzido. Em outras palavras, a faceta mais interessante da ferramenta é a capacidade de fazer perceber a importância do "quadrante" Sociedade/ Instituição. - e a insistência na necessidade de se calcular os custos para verificar a elegibilidade de um projeto. Se buscarmos uma análise mais detalhada de um planejamento financeiro, entretanto, esse modelo talvez não se mostre o mais ideal.

 Existem ferramentas que chamam atenção para outros fatores. É o caso da BCG, que chama mais a atenção para a necessidade de um plano estratégico e de marketing
 Por isso, acredito na importância e no valor de consultorias. Não apenas no terceiro setor, mas em todos. A importância não deriva de um conhecimento mais profundo do setor em ocorre a consultoria. Não posso falar, por exemplo, como uma ONG ligada à educação deve elaborar seus projetos. Por mais que eu possa ter uma melhor noção de mercado e da facilidade de “venda” de cada projeto, seria um erro atropelar as razões pedagógicas e técnicas por detrás da construção de um projeto. (elementos que estão além da minha formação).

 Nesse sentido, uma consultoria deve empreender uma ação que leve o insight para dentro das organizações. Com isso quero dizer que o trabalho de uma consultoria está em seu auge quando utilizamos alguma técnica que permita que a instituição perceba os seus buracos, as suas necessidades e possa, a partir dessa nova visão, compreender o sentido das mudanças necessárias. De fato, não é o consultor que fará a recomendação (ele não possui um livro mágico), mas a própria organização que poderá descobrir os sentidos das mudanças necessárias, por meio da facilitação de um agente externo.

No caso inicial do modelo do trevo, é fundamental levar às instituições a noção de que o direcionamento da organização é tanto mais importante quanto maior for a demanda social para o seu trabalho. Assim, em um país como o Sudão, uma ONG que ajude em conflitos sociais é mais importante do que uma que lide com a questão da fome (o Sudão, ao contrário do que se possa pensar, é um país basicamente rural que não tem dificuldades na produção de insumos alimentícios). É evidente que as organizações já fizeram essa reflexão em algum momento - mesmo que de forma inconsciente. O modelo do trevo ajuda a trazer essa reflexão para o plano consciente. Mais ainda, permite mostrar ao mundo essa relação, contando a importância dos projetos da organização para qualquer pessoa que esteja disposta a ouvir. Isso, claro, inclui os potenciais patrocinadores e contribuidores à causa.