Um dos maiores problemas do terceiro setor (ts) é a tendência das pessoas envolvidas no mesmo serem do bem. É óbvio que esta também é a sua maior qualidade. Afinal, é por haver pessoas com ideais, que buscam melhorar o mundo, que existe o terceiro setor. Mas hoje, vamos falar porque, muitas vezes, essa disposição positiva pode atrapalhar o desempenho de uma organização..
Para tanto, precisamos estabelecer as diferenças entre uma empresa e uma organização do ts. A principal diferença é a finalidade de cada uma: tradicionalmente a empresa visa o lucro, e a organização a sua missão (prover ambiente seguro para crianças em situação de risco, por exemplo). O difícil não é entender as diferenças nos fins, mas nos meios de alcançá-los.
Em primeiro lugar, ambos os empreendimentos contam com profissionais assalariados que tocam o dia-a-dia do negocio – com a possibilidade de trabalho voluntário no caso do ts. Esses trabalhadores devem operar as suas funções e garantir a aproximação da organização com a sua finalidade – seja lucro, seja um objetivo social.
Para as empresas, é razoavelmente fácil descobrir quando se está aproximando ou se afastando da sua finalidade – em todos os casos, o sucesso e o fracasso sempre se associam à proximidade da empresa do lucro. No caso das organizações do ts, a coisa é mais difícil: cada uma deve desenvolver um parâmetro de avaliação próprio. Em alguns casos, pode ser fácil: se, por exemplo, se entender que o importante é dar ao maior número de crianças uma cama, basta comprar uma grande casa, com o maior número de camas possíveis. Se, por outro lado, for preciso definir o que é um lugar seguro para uma criança – talvez seja um lugar em que ela se sinta amada – a avaliação do sucesso da organização começa a ficar mais complexa. Muitas camas é um resultado positivo? Provavelmente não será suficiente.
Por isso, muitas organizações ficam perdidas em suas relações com os seus colaboradores e patrocinadores. Não sendo fácil medir o sucesso da empreitada, como podemos medir a qualidade do trabalho de nossos funcionários? O cálculo passa a ser ainda mais subjetivo e avaliado em grande medida por empatia.
Por isso se torna um problema os empreendedores do ts serem, tantas vezes, pessoas do bem. Por que, em algum momento, eles terão que avaliar a sua equipe, e os padrões de avaliação não são dados a priori. Assim, muitas vezes, a avaliação dos funcionários é feita com bondade excessiva e até certa conivência.
Não recomendo um ambiente despótico – mas a lembrança constante de que, seja onde for, o funcionário ou voluntário deve ser escolhido para desempenhar uma função. E é sobre o seu trabalho que ele deve ser avaliado, e não pelo seu potencial de mudança. Essa é a única maneira de se atingir o objetivo maior – é pelo trabalho sério, comprometido e avaliado que podemos fazer do nosso trabalho no ts, um veículo de mudança de mundo